Não sei como acordei mais uma vez
com essa tristeza disfarçada em ânimo, impotente contra todo esse passado ao
lado da sua ausência. Não sei como tive noção de que realmente estava tudo perdido
novamente, foi tão assim, indolor, fingido. Nem percebi que quando você sumiu de
vez já me dera conta que era amor, que amo tanto, nunca admitindo fora dessa
proporção, minha ilusão foi acreditar que nunca houve, nunca foi.
Nesse minuto, enquanto escrevo,
as palavras refutam esse meu disfarce mal criado, soa como dor, e dor, e assim
vai doendo, sem deixar dúvida de que nunca fui capaz de esconder esses meus
quaisquer e iminentes ataques de desespero por alento. Eu só tentei amar,
entende? Da maneira mais não-recíproca já vista. Fui tão longe, até conseguir
me destruir por dentro, por completo, ruindo, sem ruído, sem deixar rastro de
veracidade nas minhas escolhas avessas à vontade, sempre dizendo que deveria te
ver de novo, beijar-te de novo, e fantasiar o que nunca há de ser escrito pelo
destino.
Então, agora posso ser, posso
imaginar ser, alguém recomeçando, curado de todos os erros, sem precisar de
cuidado sequer, embora isso fosse se juntar a todos os outros enganos sobre as
minhas mentiras. Embora, em nenhum momento não me surpreendera tanta vontade de
enxugar essas lágrimas.
Matheus Souza
Esqueci a cordialidade e intimei
a entrar o primeiro que batera a porta, novamente. Entrara, olhara, no entanto,
por mais que olhasse não reparava nas paredes rachadas, nas portas sem
fechadura e na lareira gelada, tão cinza quanto à imagem funesta do resto dos
cômodos. Tão certo de que nunca lembraria que fora o tal algoz, assim ficaria
por incerto. Logo, como sempre, chovera... “Não se importe, só teima em chover
nos meus dias, debaixo do meu teto”, sussurrava como se nunca tivesse o feito.
Chuva de vidro, de pedras, menos de água para alentar aquela noite que de tão
solitária demovia as horas, tão aos poucos, e, nada mudara enfim.
Eu o fiz convidado, implorando
que aceitasse e fizesse mínima companhia enquanto essa tempestade não cessava
em sopor, mesmo que não me desse uma fala, um afago, um olhar. Como esperado, desconsiderou
o convite, e se fora, deixando apenas mais pouco de solidão para trás. Quem
dera qualquer uma dessas letras espalhadas nesse bilhete queimado fosse
inspirada nesse acaso, se fosse de ser, inventaria um novo alfabeto, uma nova
maneira de se escrever, apenas para pôr a encenar essas novas palavras e então
talvez definir essa falta que se fizera.
Loucamente transformara os gestos
daquele estranho em algo que pudesse substituir essa falta de amor, fizera de
cada olhar um romance entre as luzes ofuscadas pelas estrelas do teto, tão íntimo do irreal. Soube desde o início, sempre idas e vindas, sempre foi assim,
esqueci que ele não fora um estranho em hiato algum entre essas palavras
incursas, aqui o tempo todo. Ao fim, nunca suportei ver-te partir tantas vezes,
tornara essa lembrança vaga, ao mesmo tempo indolor, supunha, nem lembraria
mais de tão triste.
Matheus Souza
Primeiro veio o olhar,
consecutivamente, a sensação mais esquisita da noite. De súbito, ele o fizera
lembrar um passado, dentre outros muitos que deixou de lado por ser quem é,
algo meio dolorido, algo no sorriso, supõe, não, não só o sorriso, era tudo, ou
talvez fosse apenas uma fantasia cósmica de que haveria uma segunda chance para
sua falta de sorte. Ilusão. Por mais que o fosse triste, quem sabe não vertia
para o bem? Minta mais um pouco para si, e pronto, acredite, enfim, há de
acabar perfeitamente convencido que dessa vez era diferente, com qualquer que
seja o estranho que lhe roubasse a atenção.
Deve sinceridade quando diz que continua culpando os olhos, ou o
desespero por um singelo recomeço. Isso por uma maldita e excedente
curiosidade, duvida se há de assentir ao sim, ao menos alguma vez nessa vida
aleatória, ou se tudo há de proceder da forma de costume, até que, até que,
enfim...
Então confessa, fora uma expectativa, essa espécie de teste sem nexo. O resultado foi como imaginara... De novo. É. Engano, tão frio, todavia de forma humana, sutil. Talvez, pior fosse aquela comparação discreta, por hora ainda não escolhera a mais dura. Aquele que tão rápido chegara, ainda mais rápido ira embora. Não deixara saudade, tampouco um mísero sentimento qualquer, exceto que restara apenas a óbvia frustração. Como de praxe se fizera de bobo, sempre soubera que o coração é uma criança levada pelo encanto, no entanto, nunca deixara de se encantar sequer uma vez antes das lágrimas. Após o delírio, se pusera a esperar então, como é forçado a permanecer, por um folhetim que não fosse avulso, diferente de todas essas páginas, que por sorte ficariam para trás. Jurava também, não supor sequer felicidades, deixar por obra do destino, se for de ser por ele. Ao final, talvez fosse preciso um “novamente”, mesmo sozinho, nada nunca impedira de sonhar com o amor.
Matheus Souza
Estou dando um tempo com palavras, sabe? Aqueles, essas e outras que vêm com tanta veemência que complicam tudo, ainda mais do que suponho, por isso, quero evitar, quero evitar essas tragédias escritas pelo coração, essas que ele insiste em me fazer protagonista. Logo, quando me finjo recluso, atiram-me centenas de outras dúvidas disfarçadas, dentro de afirmações inerentes a nada. Nessas horas o que cabe a mim é entrar em retrocesso, não importa, tudo perde o sentido, ou me parece que nunca teve algum nessas linhas, e assim me levo e trago num redemoinho de interrogações até chegar onde sempre é de se chegar, por fim, tudo deve estar no lugar certo dentro dessa desordem. Tudo veio de repente, e aí tento eu desfazer o irreal.
Então depois, não peça paciência, não peça pra ouvir aqueles discursos de moral escritos nas veias ressequidas, não peça para fazer platéia para encenações de morte e desespero que nunca levou a sequer uma pérfida lágrima. Não me resta apenas falar das dores, o que me vale é fazê-las passar, e disso cuidei sempre sozinho, sem palavras, quaisquer que sejam, porém com palavras, principalmente as tuas, tenha-te por certo de que as feridas insistiriam em abertas.
Matheus Souza