Esqueci a cordialidade e intimei
a entrar o primeiro que batera a porta, novamente. Entrara, olhara, no entanto,
por mais que olhasse não reparava nas paredes rachadas, nas portas sem
fechadura e na lareira gelada, tão cinza quanto à imagem funesta do resto dos
cômodos. Tão certo de que nunca lembraria que fora o tal algoz, assim ficaria
por incerto. Logo, como sempre, chovera... “Não se importe, só teima em chover
nos meus dias, debaixo do meu teto”, sussurrava como se nunca tivesse o feito.
Chuva de vidro, de pedras, menos de água para alentar aquela noite que de tão
solitária demovia as horas, tão aos poucos, e, nada mudara enfim.
Eu o fiz convidado, implorando
que aceitasse e fizesse mínima companhia enquanto essa tempestade não cessava
em sopor, mesmo que não me desse uma fala, um afago, um olhar. Como esperado, desconsiderou
o convite, e se fora, deixando apenas mais pouco de solidão para trás. Quem
dera qualquer uma dessas letras espalhadas nesse bilhete queimado fosse
inspirada nesse acaso, se fosse de ser, inventaria um novo alfabeto, uma nova
maneira de se escrever, apenas para pôr a encenar essas novas palavras e então
talvez definir essa falta que se fizera.
Loucamente transformara os gestos
daquele estranho em algo que pudesse substituir essa falta de amor, fizera de
cada olhar um romance entre as luzes ofuscadas pelas estrelas do teto, tão íntimo do irreal. Soube desde o início, sempre idas e vindas, sempre foi assim,
esqueci que ele não fora um estranho em hiato algum entre essas palavras
incursas, aqui o tempo todo. Ao fim, nunca suportei ver-te partir tantas vezes,
tornara essa lembrança vaga, ao mesmo tempo indolor, supunha, nem lembraria
mais de tão triste.
Matheus Souza
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