Custa a Não Lembrar.

Posted by Tk On quinta-feira, 21 de junho de 2012 0 comentários



Esqueci a cordialidade e intimei a entrar o primeiro que batera a porta, novamente. Entrara, olhara, no entanto, por mais que olhasse não reparava nas paredes rachadas, nas portas sem fechadura e na lareira gelada, tão cinza quanto à imagem funesta do resto dos cômodos. Tão certo de que nunca lembraria que fora o tal algoz, assim ficaria por incerto. Logo, como sempre, chovera... “Não se importe, só teima em chover nos meus dias, debaixo do meu teto”, sussurrava como se nunca tivesse o feito. Chuva de vidro, de pedras, menos de água para alentar aquela noite que de tão solitária demovia as horas, tão aos poucos, e, nada mudara enfim.

Eu o fiz convidado, implorando que aceitasse e fizesse mínima companhia enquanto essa tempestade não cessava em sopor, mesmo que não me desse uma fala, um afago, um olhar. Como esperado, desconsiderou o convite, e se fora, deixando apenas mais pouco de solidão para trás. Quem dera qualquer uma dessas letras espalhadas nesse bilhete queimado fosse inspirada nesse acaso, se fosse de ser, inventaria um novo alfabeto, uma nova maneira de se escrever, apenas para pôr a encenar essas novas palavras e então talvez definir essa falta que se fizera.

Loucamente transformara os gestos daquele estranho em algo que pudesse substituir essa falta de amor, fizera de cada olhar um romance entre as luzes ofuscadas pelas estrelas do teto, tão íntimo do irreal. Soube desde o início, sempre idas e vindas, sempre foi assim, esqueci que ele não fora um estranho em hiato algum entre essas palavras incursas, aqui o tempo todo. Ao fim, nunca suportei ver-te partir tantas vezes, tornara essa lembrança vaga, ao mesmo tempo indolor, supunha, nem lembraria mais de tão triste.

Matheus Souza

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