Os pormenores mesmo que piores que sejam fazem sentir menos
um quarto sequer do ultraje que é ser inutilmente nostálgico. Assim lhe falo,
amigo, estou deixando de lado um mais de coragem que poderia ser deveras afiada
num laço que não me rompe. Por dó então, eu vou me levando de ponteiro na vida,
passando de corda qualquer que demais fosse pra permanecer. Nesse tempo, que
aspira um ameno tão de horizontes, eu ao menos o torno algo que me traga um dia
de mero intento, uma estação que espera você passar por cadente no céu da minha
calçada curada a giz.
Alguns por vezes ou de longos meses encontram por fim um par, um achado de nada
mais que espaço vago. Outros de vago, vagam atrás de algum traço que mereçam
mais estragos. Esses tais esquecem de gravar os segundos de completo que nem de
todo sonha em calar.
Matheus Souza
Tem coisas que de um tanto em tanto, fazem falta. Nem que
agora tanto faça frio, eu te espero na porta. A maçaneta que morre de tão
morna, vive a deixar quais despedidas fossem atrozes a falhar pelo tapete da
sala, perto do conjunto novo de sofá. Faz tanto atrás, mas se volta, perde a
hora e o ponteiro que era para acertar o tempo de chegar. E que de tanto ninguém
traz, um pouco de conhaque diluído em afeto pra um velho resmungo varrido da
sala de estar. O que me apraz, é um tanto que não se faz, é um orvalho que não
cai e nem uma junta me desfaz aquele afago no peito de deitar num leito de
qualquer rapaz. Apenas faz um tanto de mais, que de um voto não devora, porém
remedia qualquer jura de quem nada sofre mais. Tanto faz.
Matheus Souza
Levanto-me, forço a vista por
entre o embaçado do vidro na janela, é que agora eu me pego olhando longe, como
que por convidativa me houvesse uma esperança remanescendo a cada relance, a
cada gota dessa chuva arranhando o vidro do coração. É, não há de ser hoje que amor
virá fazer breve a sua visita. Sento no chão gelado, então vou impelindo da
memória aquele aceno que fingiu ser até logo, ainda penso em uma despedida
decente, que acoa, ecoa e logo fica turva. Acendo, fumaça, não relaxa, por que
é tão insuportável? Incomoda esse barulhinho sopitado de alma quebrada, contido,
devagar, infindável tanto quanto a profundidade das mágoas enterradas pelas
águas. O acertar, nem soa acerto ao certo. Dores rasas, num vau, sem aval, nem
decreto de felicidade se faz lei. Falta calor pra pôr cerrado entre os dedos.
Vago pela casa, achando e escondendo
os passos que o acaso me tirou ao caminho certo, e vai retrocedendo, tudo ao
vislumbre de um feixe de luz por entre as persianas. Ainda é dia... Mas o sol
se escondeu por detrás da nuvem, são seus olhos que não param de chover, são
lágrimas, são nunca mais. Tem uma porta, tem a maçaneta, posso abrí-la a qualquer
instante, embora esteja presa, de porta fechada, mas não trancada, de alma
solta, mas enjaulada entre as paredes da minha vontade de ser livre, mas não
posso... Tenho que permanecer, sair tem o risco de esbarrar com decepções, mas
são elas que provam que tentei, que tentei não me esconder, que amei. Mas como
horas se passam nubladas, não tem hora para mudar e sair, pra viver, só que por
um pouco, e não sentir, sem querer, o que resta pra amar, nem que por um dia
mal vivido.
Matheus Souza
Faz-me favor a sinceridade, e
adia cada palpitada por um viver sem razão. É só a existências de porquês, e,
de cor eu confesso nunca lidar com esse pranto todo. Foi-se o que fora bom,
sobretudo que sobre aquilo que insiste em ser verdadeiro, por mais doloroso que
se almeje não passar inerte. Fixe as margens do meu céu, e ponha-te no lugar de
lá, de onde não há de sair até saber que também não se entra.
Nem te peço, nem me ajude, apenas
dê-me a paz de te ver indo embora. Mas ainda espere, leve consigo o amargo
intragável dessas mentiras, traga o presságio de alento. Nessa cela o azar se convida ao sussurro da
mão cerrada à maçaneta sem porta, os passos dão adeus ao chão falso, e assim
corre em fuga da ilusão de felicidade. É virtude da malícia ser sarcástica ao
tramar contra si própria, então penso que foi inocente. Não sei ao certo aonde
me larguei das palavras que recolhi das estrelas, esperando assoprá-las aos teus ouvidos, sei que no bolso ficaram as que deveria ter cravado no peito para
me tomar, de uma vez só, o fado sem amor.
Não seria do seu feitio se
culpar, porém a sua consciência acusa a farsa. Quis fazer então deveras desnecessária
essa despedida, pois supunha saber que se tratando de partidas eu recolho os
meus olhos dos teus um tanto assim, então me faço certo do acaso. Há de haver mais
encontros entre o “até logo” dessas histórias pontilhadas de lágrimas, todavia
fora o derradeiro olhar, e mais um aceno jogado ao vento.
Matheus Souza
Noite passada, assim do nada, o
medo de te perder estampou o meu rosto em lágrimas, e essas em vozes, uma a uma
fazendo o som de cada pedaço quebrado caindo e sumindo de vez. Não saberia te
explicar os porquês do meu receio, mas te afirmaria que não se faria diferente
se soubesse. Por ter visto alguns partirem me põe a vontade de te ver ao
oposto. Então não lhe peço que entenda ou assinta, imploro que não me negue a
esse último pensamento avulso que lhe toma por companhia. É contraponto em dor,
por enquanto e por quanto for de ser.
As minhas forças, as visitantes,
já se foram, as portas entreabertas, eu só não deveria ter lhe chamado para
entrar, quem sabe para tomar um chá, pensei, mas convidei com esperanças de lhe
dar o papel das passageiras, e tornar-me permanente, talvez você apenas levasse
um pouco mais de tempo. As estrelas talvez se apaguem depressa, no entanto hão
de demorar em dissipar seu brilho em morte, e, embora ainda queira que os minutos
para o fim regressem para o sempre, que não se enfade dessas palavras até que
elas deixem de alumiar os teus passos.
Matheus Souza
Que sirva de suporte a todas essas
palavras outorgadas esse sentimento vazio... Molde as dúvidas por entre os
rabiscos das próprias mãos, e, então vá, inciso noutras falhas por essa vida e
por lá. Ele apenas não pode acreditar assim tão de repente na verdade, prefere suas
tragédias de cabeceira. Já não o intriga esses desastres que lhe chama de
gostar. É hábito de desesperança, entenda. O que o chama à atenção é o sabor
costumeiro de infelicidade, é o que espanta, é o que escreve, são os desvios
que não o afastam do destino, e a demência que traz sentidos.
Não! Não ponha os pés a descansar
ainda! Não é aí o seu lugar, não é a dor que possa chamar de lar. Precisa de um
contraste, um contraponto nessa solidão, um sorriso, algo que supõe ser fácil
de encontrar pelas ruas à meia luz, nos ladrilhos desse seu fado certo, mas
peço, que não seja mais dor. Não quer imaginar que posteriormente ao fim foi o
nada. Fez-se apego um tanto ao azar de ser assim, largado, fora dos braços do
amigo que é o ânimo, que não dera ocasião a se lembrar de esquecer-se dessa
agonia, pois confessa, nunca sentira tal e jamais sentiria de novo. Vaga
esperança, essa se cogitasse alcançá-la, poria no enquadro da alma a certeza de
aproveitá-la até o momento de esquecer que já não mais pisava aquele chão frio.
Matheus Souza
Sei que precisa chorar, sei que
precisa de algo que te leve afora. As paredes desse poço, pegajosas,
escorregadias e molhadas de lágrimas, não deixam escalar. Avesso. Essas me
escalam, me impelem medo e demovem, o mesmo lugar, fundo. Brilho apaga, como se
nunca tivesse passeado por entre os olhos, deveria discernir que era para nunca
durar. Grite, vá! Quem sabe mãos me subam da garganta, sufoquem com mais ímpeto
ainda esses berros abafados, estanquem esses lamentos intragáveis e adornem
mais falhas a essa perfeita displicência.
Não conte para ninguém que eu reconheço
as intenções. Agora, dirás que tem medo do escuro? Não me discurse sobre tais.
Vai invadir, vai avançar e vai tomar o lugar, e eu suplico que não, então vai
abrir as janelas dessas cicatrizes para fazê-las verem o sol nublado de cinza.
Aprenda a lidar, não faz jus ter sentido, não se indague, logo não fará senso
de tempo, de dor, de histórias bem contadas, e finais agradáveis, nunca, nunca
mais. É feitio da dor esse murmúrio, é só uma forma dela me desviar a atenção
enquanto ela finda a pele e dispersa as preces.
Lá de baixo, agora só me
encontram as imagens daqueles rostos ruídos. Olho para baixo e minhas mãos
cavam procurando esperanças, embora seja apenas mais lama para sujar os dedos.
Enterro os últimos sonhos, despeço-me, como de praxe, e durmo no vazio, tão
íntimo, todo dia. Então recolha as lágrimas. Resta solidão, a única a te dar a
mão, assim eu me dou, eu me doou dor.
Matheus Souza
Estilhaços de desafeto jogado por
todo lado. Eu nem sei mais. Nunca me preocupei em descobrir como me faço isento
de mim mesmo, desses pensamentos malucos, meios perdidos ao que não convém
recontar. Eu quero de volta, e logo, preciso daquele motivo que me foi roubado,
apenas para dizer que não quero mais silêncio em mim. Já chega desse sorriso
desbotado na cara, esse que quando no quarto vai borrando pelas lágrimas,
guardado na gavetinha esquecida do criado-mudo.
Mas aí vem você, estranho,
olhando fundo e alarmando que não existe forma de vida nesse meu mundinho cinza.
Você não tem o direito de invadir e de confiscar as minhas lembranças, pois
você é tão cinza quanto eu. Mas pelo incrível que pareça você matiza esses
minutos jogados fora conversando bobagens. Então você vai enfeitando esse meu
ínfimo riso. E eu querendo ser incauto, mas singelo ao dizer que não me faça
distância, faça-me bem. Ao final, ficam apenas minhas condolências ao final de
sempre, que eu sei de cor, taxado, nessas linhas infindáveis. Desculpe-me...
Matheus Souza